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domingo, 7 de agosto de 2022

Lido: Cadernos da Água, de João Reis

Um dos livros mais espetaculares que li, nos últimos meses, foi o Cadernos da Água, de João Reis. Não me canso de elogiar este autor: é inteligente, escreve bem, as histórias que cria são muito originais... etc etc etc... já li vários livros dele e que ele tenha mãozinhas para continuar a escrever, porque eu irei continuar a comprar tudo o que ele publique. 

Cadernos da Água é diferente de tudo o que o João já escreveu. Já foi uma criança que procura uma cura para a avó, já foi um tradutor sem nome que passa dificuldades, já foi um escritor na Coreia do Sul em busca de inspiração... e agora apresenta-nos um livro distópico. 

Um aparte, antes da review propriamente dia:
Estamos, nós sociedade, a passar por um momento que é muito pouco recomendável. O passado mês de julho - a semana passada, portanto, foi o mais quente dos últimos 92 anos. Houve localidades portuguesas a atingir valores de 47 graus. E este pode, perfeitamente, ser um cenário que vai repetir frequentemente nos próximos anos. O aquecimento global não é ficção. E o livro que o João Reis nos apresenta, apesar de distópico, tem momentos que me fizeram arrepiar, por serem tão plausíveis. 

A ação passa-se num futuro não muito longínquo. Portugal, enquanto País, já não existe. As Guerras Meridionais são uma realidade, e além da falta de água, a nível global, existe também um vírus altamente contagioso e mortal. Grupos paramilitares fazem o que bem lhes apetece. 

Vários refugiados portugueses encontram-se num país escandinavo, com grupos de outros países. As condições são dificílimas. O livro segue várias vozes, mas a mais "audível" é a de uma mãe, Sara, e da sua filha, Mariana. Ela consegue arranjar forma de escrever várias missivas ao marido que está afastado da família, na esperança que, um dia, ele consiga ler estes escritos. Nestas descrições ela fala das dificuldades sentidas no centro/campo de refugiados e da forma como são (des)tratados. 

A intervalos, surgem-nos momentos de Emanuel, marido de Sara e pai de Mariana. Sabemos que ele foi forçado a trabalhar com um grupo armado e "vemos" as situações a que é submetido. 

Surgem-nos também "recortes" de jornais, com notícias da guerra e da pandemia, circulares ministeriais, informações e instruções dos centros/campos de refugiados... toda uma panóplia de "peças-chave" que permitem ao leitor construir a narrativa, quase como um puzzle. 

É um livro que nos deixa, no mínimo, angustiados, porque nos faz sentir aquilo que aquelas personagens sentem. Este livro é um alerta, uma chamada de atenção para os problemas reais a que muitos fazem "orelhas moucas"; como se estas coisas "comezinhas" fossem apenas um ligeiro obstáculo, um incidentezinho num plano maior... 

Os cientistas são sonegados, pessoas como Greta Thunberg foram ridicularizadas - e, nós, cá vamos andando, felizes. 

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