A minha última leitura de 2020 foi A Filha do Papa, de Luís Miguel Rocha. O livro girava em torno de Pio XII e de uma relação amorosa que o Papa teria mantido com a Irmã Pascalina, sua secretária e governanta. Dessa relação teria nascido uma filha. Além desse escândalo, a sua contenção pública acerca da questão judaica durante a II Guerra Mundial tê-lo-iam considerado não apto a um processo de beatificação. Mas este livro não passava de especulação literária.
Na mesma linha, tinha cá em casa há bastante mais tempo, este livro Os Judeus do Papa, do autor galês Gordon Thomas. Nesta obra de não ficção, o autor explora todas as iniciativas do Vaticano para proteger os refugiados judeus e soldados aliados, bem como os judeus da comunidade de Roma.
Pio XII, além de dar ordem para que todas as Igrejas e conventos dessem asilo a refugiados, chegou várias vezes a ajudar a comunidade judaica com dinheiro. Dinheiro esse que havia sido exigido pelos nazis. A residência de Verão do Papa também acolheu refugiados. Paralelamente, envidou esforços para, pelas vias diplomáticas, evitar a deportação de judeus romanos e garantir a paz política na Europa.
Quando, em 1943, as forças nazis invadiram Roma, o Papa abriu a Santa Sé aos refugiados, e concedeu a cidadania do Vaticano a entre 800 mil e 1,5 milhão de pessoas (números estimados). E durante anos, várias centenas de padres, bispos e cardeais católicos empenharam-se em esconder inúmeras vidas judias.
Uma ressalva importante: este livro foi publicado em 2012, e baseou-se em entrevistas, registos de diários, fotografias e outros documentos históricos, dado que os arquivos do Vaticano sobre esta época só no ano passado (em março de 2020) foram liberados. Agora, os investigadores terão acesso sem limitações a estes documentos.
Apesar de todos os esforços do Vaticano, Pio XII não se "livrou" de ser conhecido como "O Papa de Hitler" devido ao facto de nunca ter condenado pública e inequivocamente as deportações e os homícidios em massa perpretados pelo Terceiro Reich. Os seus apoiantes defendem que o seu silêncio foi útil para salvar vidas humanas. Os seus detratores acusam-no de ser conivente com o regime nazi e ser anti-semita.
Na data de hoje, é um livro que poderá estar desatualizado, contudo é uma leitura interessantíssima para quem gostar de História, com especial enfoque na II Guerra Mundial, e em jogos diplomáticos de bastidores.
Esta leitura foi incluída nas listas da maratona Estações Literárias (categoria não ficção) e do projeto Inverno QB (letra O).
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