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quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Lido: Viúva de Ferro, de Xiran Jay Zhao

A culpa é da capa. Sabia vagamente o enredo do livro, mas, neste caso específico, fui conquistada pela capa espetacular deste livro. Viúva de Ferro é uma edição da Saída de Emergência e passa-se em Huaxia (soube mais tarde que este nome era utilizado na literatura chinesa histórica como representação da China e da sua civilização). 

O território está em guerra com os Hunduns, de quem sabemos muito pouco. As fronteiras são defendidas por máquinas de guerra gigantes, que se movem por causa da simbiose da energia vital do piloto e da sua concubina. As mulheres morrem em quase todos os combates, dado que a sua energia é totalmente consumida em batalha. A maior honra para uma jovem é servir e morrer pelo seu país. 

A irmã de Zetian foi uma delas: uma das concubinas mortas. E Zetian - a nossa heroína - só pensa na vingança e em como a alcançar. Oferece-se como voluntária e nos testes é eleita como consorte de Yang Guang, o piloto-estrela, o homem que matou a irmã... 

Durante a batalha, há uma reviravolta inesperada, e Zetian recebe o título de Viúva de Ferro. Mas as suas atitudes, levam a que seja emparelhada com o mais volátil dos pilotos. Um criminoso que matou a família, de seu nome Li Shimin. 

A parceria dos dois é, no mínimo, inesperada e bem sucedida, mas, a sociedade chinesa não está preparada para que as mulheres se imponham, nem mesmo em circunstâncias especiais como aquelas que se vivem naquele momento. 

A narrativa é interessante e a mistura entre elementos da própria História da China com elementos de ficção científica está muito bem conseguida (Zetian, por exemplo, aqui é uma jovem de uma família humilde, mas, na realidade, foi a 1.ª Imperatriz chinesa).  Entreteve-me e fez com que quisesse chegar ao fim da leitura, mas, de tempos a tempos, sentia que aquele livro não era para mim. É um young-adult, mais "young" e menos "adult" para meu gosto. Pareceu-me que certos momentos podiam ter ido um pouco mais além, terem sido mais e melhor explorados, mas que ficou um pouco pela rama. Isto não quer dizer que não vá ler a continuação; talvez haja algumas respostas no 2.º volume, que, se espera, para março de 2023. 

terça-feira, 23 de agosto de 2022

Lido: Britt-Marie esteve aqui, de Fredrik Backman

Depois de Ove, Fredrik Backman "oferece-nos" Britt-Marie. Britt-Marie é uma mulher de meia idade que acaba de se separar do marido, Kent. Casada há décadas, descobre que o marido a trai, e resolve deixá-lo. Mas Britt-Marie nunca fez nada na vida além de cuidar dos outros, especialmente do marido. Inscreve-se num centro de emprego, e é previsto que espere. 

Mas Britt-Marie não sabe esperar e, todos os dias, telefona para o centro para saber se já apareceu alguma oferta. Até que, poucos dias depois, realmente aparece algo: uma vaga para supervisionar, temporariamente, um centro recreativo de uma vila quase deserta. Está previsto que o centro seja encerrado de forma permanente, daí a poucas semanas, mas até lá, é preciso que alguém continue a zelar pelo seu bom funcionamento. 

Britt-Marie tem várias características muito próprias: não suporta desarrumação, acha que tudo deve ser feito de acordo com as regras e tem a certeza que tudo se limpa com uma boa dose de bicarbonato de sódio. Chegada a Borg, a vila, apercebe-se que se trata de um local de passagem, e que são poucos os residentes que ali se mantém. Só existem dois negócios abertos: uma florista e uma pizzeria, que também funciona como mercearia e estação dos correios (e ocasionalmente, encontra-se um ou outro produto "que cai de camiões"). 

A senhora começa o seu trabalho com uma limpeza profunda ao próprio do centro recreativo, enquanto, vai conhecendo as pessoas que ali vivem (conhece também um ratinho, a quem deixa, todos os dias, um pedaço de chocolate, num pires). Às duas por três, vê-se como responsável de um grupo de crianças que quer participar num torneio de futebol, quando, na verdade, mal sabem dar um chuto numa bola. 

Até que Kent reaparece e pede que Britt regresse a casa. E o mundo que Britt-Marie está a construir ali, naquela vila quase esquecida, sente os alicerces a abanar. 

Fredrik Backman tem o condão de tornar histórias banais em grandes narrativas. A vida de Britt-Marie é banal, tal como era a de Ove, mas, de repente, tudo se transforma, e pessoas perfeitamente banais, podem ser os heróis de alguém. E Britt-Marie é a heroína de muitos. Eu, pessoalmente, já gostava dela à 5.ª página lida. E sabia que algo de muito especial ia ali acontecer. O quê e como eram as minhas dúvidas. Eu ia sugerir este livro a quem gosta de "leituras leves", mas apercebi-me que, no fundo, Britt-Marie esteve aqui não é só um livro leve. Tem outras reflexões muito interessantes: o trabalho de equipa, a superação, o amor e a amizade, mas também a soberania do dinheiro, a família, o envelhecimento... Fredrik Backman trata de assuntos sérios com uma leveza que não é fácil de replicar, e ataca "com tudo" neste livro maravilhoso que aquece corações.  

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Lido: Lugar Nenhum, de Neil Gaiman

Há umas semanas (hahahaha... quase vos enganava, foi há 3 meses)... comprei o livro "Lugar Nenhum" de Neil Gaiman. Já temos alguns livros dele, e este ainda não. Edição Saída de Emergência, com data de fevereiro de 2022... dizia ainda que se tratava de uma edição atualizada, com uma introdução e um conto inédito de Gaiman. Na minha mente só pensava numa "win-win situation". Comecei a ler, mas tudo me soava a familiar. Mas como, senhores, se nunca tal livro me havia passado pelas mãos? Explicarei mais à frente...

Richard Mayhew, um jovem executivo, preparava-se para ir jantar com a noiva, Jessica, e com o patrão desta, uma importante figura londrina, que a jovem quer impressionar. Quase a chegar ao restaurante, literalmente, cai aos pés de Richard uma outra jovem, bastante ferida. Richard, para grande descontentamento de Jessica, escusa-se ao jantar, para ajudar a ferida. Volta para casa e cuida dela. Na manhã seguinte, a jovem, que se chama Door, pede a Richard que entregue um recado a um determinado Marquês de Carabas, para que a ajude a fugir. Richard acede, e quando dá por si, foi envolvido pela Londres de Baixo, um território de criaturas e personagens excêntricas e, no mínimo, caricatas. Na "sua" Londres, é como se nunca tivesse existido. A noiva ao vê-lo não o reconhece, o melhor amigo, idem... o seu apartamento foi alugado, e Richard tem de descobrir como recuperar a sua realidade. 

Dizia eu, mais acima, que tudo me soava familiar. Em 2015, li, creio que em versão ebook, o romance Neverwhere. Na altura, apenas coloquei online (aqui no blogue), a sinopse, retirada da Wikipédia. Pois... errrr... a verdade é que não me lembrava de absolutamente nada do enredo, e o que me fez "clique" foi o nome do Marquês de Carabas. 

Para mim, foi ler uma novíssima história de Neil Gaiman. Atenção: não me estou a queixar!! Ler Gaiman é sempre um bom investimento de tempo. A vida de leitor é assim mesmo: depois de umas quantas centenas de livros lidos, quando damos por nós, encontramos um excitante livro que, findas as contas, já tinha sido lido anos antes. Em minha defesa, o Henrique tinha pouco mais de 2 anos, e eram já 2 anos sem dormir em condições; a minha sanidade mental da altura é, francamente, discutível. 

O livro é sem falhas, mais um excelente exemplar da escrita do britânico. Há magia, criaturas, personagens misteriosas, perigo, excitação, momentos de reflexão, momentos de humor... tudo o que Gaiman já nos habituou. Talvez, há 7 anos, não tivesse lido com o mesmo espírito com que o li agora - como disse, o Henrique era ainda muito pequeno, e não dormia uma noite completa. Aliás, se for rever os títulos lidos naqueles dias, deverão ser muito poucos aqueles que me lembro.

domingo, 21 de agosto de 2022

Verões Felizes, de Zidrou e Jordi Lafebre

Eis o novo episódio da saga "vou finalmente ter o blogue atualizado... quiçá...!!!". 

A coleção franco-belga de BD Verões Felizes é maravilhosa. Nada mais é do que um conjunto de histórias das férias da família Faldérault, ao longo dos anos, que, chegando o Verão, embarca na sua carrinha Renault 4L (a Menina Estérel, e ela própria uma personagem destas aventuras e desventuras), rumo ao Sul, para uns merecidos dias junto ao mar. 

O grafismo é incrível (o desenho, as cores, a fluidez entre as vinhetas...), as histórias são lindas, emocionantes (sem serem lamechas!) e nostálgicas. O que é mágico em todas estas histórias é que existe sempre qualquer coisinha que nos faz ligar de forma permanente a cada uma das personagens, desde o "laissez faire" de um até à personalidade mais tímida de outro. Há para todos os gostos. 

Ao ler cada história (podem ler-se saltitadas que não há problema absolutamente nenhum!!!), o meu coração batia forte a cada página virada, uma lagrimita escorria, mas logo a seguir uma gargalhada se soltava. 

Não sou "especialista" em banda desenhada, mas fico mesmo muito contente por ter tido a hipótese de comprar e de ter comigo estes livros. Não creio que se possam recomendar a um público A, B ou C. Verões Felizes é para todos! Seja para ler agora, enquanto o Verão ainda cá anda, ou no Inverno quando precisamos de um bocadinho de sol num domingo à tarde chuvoso. Deixem-se levar pelos Faldérault rumo ao Sul.

domingo, 7 de agosto de 2022

Lido: Cadernos da Água, de João Reis

Um dos livros mais espetaculares que li, nos últimos meses, foi o Cadernos da Água, de João Reis. Não me canso de elogiar este autor: é inteligente, escreve bem, as histórias que cria são muito originais... etc etc etc... já li vários livros dele e que ele tenha mãozinhas para continuar a escrever, porque eu irei continuar a comprar tudo o que ele publique. 

Cadernos da Água é diferente de tudo o que o João já escreveu. Já foi uma criança que procura uma cura para a avó, já foi um tradutor sem nome que passa dificuldades, já foi um escritor na Coreia do Sul em busca de inspiração... e agora apresenta-nos um livro distópico. 

Um aparte, antes da review propriamente dia:
Estamos, nós sociedade, a passar por um momento que é muito pouco recomendável. O passado mês de julho - a semana passada, portanto, foi o mais quente dos últimos 92 anos. Houve localidades portuguesas a atingir valores de 47 graus. E este pode, perfeitamente, ser um cenário que vai repetir frequentemente nos próximos anos. O aquecimento global não é ficção. E o livro que o João Reis nos apresenta, apesar de distópico, tem momentos que me fizeram arrepiar, por serem tão plausíveis. 

A ação passa-se num futuro não muito longínquo. Portugal, enquanto País, já não existe. As Guerras Meridionais são uma realidade, e além da falta de água, a nível global, existe também um vírus altamente contagioso e mortal. Grupos paramilitares fazem o que bem lhes apetece. 

Vários refugiados portugueses encontram-se num país escandinavo, com grupos de outros países. As condições são dificílimas. O livro segue várias vozes, mas a mais "audível" é a de uma mãe, Sara, e da sua filha, Mariana. Ela consegue arranjar forma de escrever várias missivas ao marido que está afastado da família, na esperança que, um dia, ele consiga ler estes escritos. Nestas descrições ela fala das dificuldades sentidas no centro/campo de refugiados e da forma como são (des)tratados. 

A intervalos, surgem-nos momentos de Emanuel, marido de Sara e pai de Mariana. Sabemos que ele foi forçado a trabalhar com um grupo armado e "vemos" as situações a que é submetido. 

Surgem-nos também "recortes" de jornais, com notícias da guerra e da pandemia, circulares ministeriais, informações e instruções dos centros/campos de refugiados... toda uma panóplia de "peças-chave" que permitem ao leitor construir a narrativa, quase como um puzzle. 

É um livro que nos deixa, no mínimo, angustiados, porque nos faz sentir aquilo que aquelas personagens sentem. Este livro é um alerta, uma chamada de atenção para os problemas reais a que muitos fazem "orelhas moucas"; como se estas coisas "comezinhas" fossem apenas um ligeiro obstáculo, um incidentezinho num plano maior... 

Os cientistas são sonegados, pessoas como Greta Thunberg foram ridicularizadas - e, nós, cá vamos andando, felizes. 

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Lido: O Clube do Crime das Quinta-Feiras, de Richard Osman

Ena, acabei de me aperceber o quão atrasada estou nas minhas publicações. Ainda durante o mês de abril, li o livro O Clube do Crime das Quinta-Feiras, de Richard Osman. 

Há algum tempo que não me divertia tanto a ler um livro policial. Esta história passa-se num condomínio residencial para reformados. Lá conhecemos o grupo mais improvável de sempre: Ron, um ex-sindicalista, Joyce, uma viúva que não é tão ingénua quanto parece, Ibrahim, um ex-psiquiatra com uma incrível habilidade analítica e a misteriosa Elizabeth, que lidera este grupo de investigadores. 

Todas as quintas-feiras, os quatro reúnem-se para discutir casos policiais que nunca conheceram uma resolução - os chamados "cold cases". Até que, de forma quase fortuita, o grupo vê-se envolvido num caso verdadeiro de homicídio: Ian Ventham, o proprietário do condomínio quer expandir-se, e compra um terreno anexo que, em tempos, foi o cemitério de um convento. Até que aparece morto na sua própria casa.

Obviamente, os nossos idosos não podiam deixar esta oportunidade de investigar um caso concreto e atual passar-lhes ao lado.

É um livro leve e divertido. Perfeito para aqueles domingos de inverno em que não nos apetece pensar muito e simplesmente desfrutar de um livro descontraído. A história está muito bem desenhada e o facto dos protagonistas serem um grupo de quatro idosos coloca-os longe de toda e qualquer suspeita, e sempre um passo à frente da polícia. 

É um livro que recomendo a qualquer público. 

terça-feira, 2 de agosto de 2022

Fantasia para desenjoar

Depois de livros tão pesados, lancei-me a leituras mais leves e li O Trono de Vidro e Coroa da Meia-Noite de Sarah J. Maas, os dois primeiros de uma saga de fantasia. Entretanto, informo que o 3.º livro já está à venda. 

Até pode parecer brincadeira, mas ler livros que sabemos que são pura imaginação é relaxante, apesar de haver, na narrativa momentos de violência ou tensão. Saber que não passa de "faz de conta", independentemente, do seu tamanho, é, neste ponto da minha vida, um exercício libertador. 

Esta saga é protagonizada por Celaena, uma assassina temível, apesar da sua jovem idade. Vivemos num mundo em que a magia foi proibida pelo terrível Rei Havilliard. No primeiro livro, Celaena está presa em Endovier, e será resgatada pelo príncipe Dorian, que a leva para Adarlan. Celaena irá competir com mais uma vintena de criminosos pelo título de "campeão do Rei", e ver a sua sentença diminuída. 

Cada combate é de vida ou morte, e Celaena não terá de enfrentar, apenas, os outros competidores, mas também os jogos de bastidores e, algo mais, que se esconde nas entranhas do castelo. Mas, é nos locais mais improváveis que nascem as amizades mais fortes. 

Ao longo do tempo, Celaena desenvolve uma forte ligação com Nehemia, a princesa de Eyllwe, e com Chaol, o comandante da Guarda do Rei. E até mesmo com Dorian. 

No segundo volume, Celaena tornou-se oficialmente, a assassina do Rei. E a sua missão é eliminar todos aqueles que se oponham ao Rei e ao seu regime. Um dia, é mandada matar um velho conhecido, e vê-se envolvida em todo um esquema para derrotar o Rei no seu plano. Em toda esta trama, são revelados segredos que envolvem Celaena e o seu passado, que podem ser determinantes para o seu futuro e o de todo o reino. 

Magia, conspirações, assassinatos... é toda uma vibe semelhante ao "Game of Thrones", mas uns pontinhos mais abaixo. Estou a gostar bastante de este mundo de Sarah J. Maas. E, certamente, continuarei a seguir a história de Celaena Sardothien.