Entretanto, comecei a ler Até os comboios andam aos saltos, a última obra da almadense Célia Correia Loureiro. Conheci a escrita da Célia através do livro Demência, que li em fevereiro de 2020, e, na altura tinha adorado o livro, e elogiado bastante a autora, visto que o livro tem uma carga pesadíssima e havia sido escrito quando ela tinha uns meros 20 anos.
Entretanto, além do relançamento de "O funeral da nossa mãe", a Célia apresentou, numa edição de autor, este livro que terminei em pouco menos de 48 horas.
A nossa protagonista - prestes a completar 30 anos - está num aeroporto, e vai metendo no papel, as suas impressões daquilo e daqueles que a rodeiam, ao mesmo tempo que vai contando a história da sua própria vida.
Filha de um toxicodependente e de uma alcoólica, a nossa protagonista tinha tudo para se deixar embrenhar numa vida "poucochinha", mas amparada e educada pelos avós, conseguiu dar a volta à vida e tornar-se independente.
Nas suas palavras, via, apesar de tudo, o pai como um herói. Até ao dia em que vende alguns dos seus pertences, para sustentar o vício. Com a mãe, a relação sempre foi fria e distante. Conta também com um irmão, a braços com os seus próprios demónios.
É mais um livro admirável. Comparando com o "Demência", a diferença do estilo de escrita é radical. Enquanto que no primeiro temos um romance estruturado, este livro é uma espécie de diário caótico, escrito enquanto espera pelo avião, onde faz um balanço de tudo: desde as relações familiares, à oferta de um novo emprego, passando pelo Luís, aquele homem que a espera em Lisboa, e com quem irá terminar a relação...
Neste livro, a Célia é quase bruta a escrever - tão tão diferente daquela menina de rosto sorridente que se vê no Instagram. A vida da nossa protagonista não foi fácil, mas a fibra que emana, é suficiente para uma cidade inteira.
É um livro corajoso. Cheguem ao fim e leiam a última página. Saberão do que estou a falar!!
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