Mas, os problemas da mente são mais antigos do que o coronavírus. O livro que li A redoma de vidro (PT-BR)/A campânula de vidro (PT-PT) de Sylvia Plath versa exatamente sobre esta temática. Nunca havia lido esta autora e deparei-me com ela quando procurava uma obra sobre saúde mental - um dos desafios da maratona Estações Literárias.
Seguimos Esther, uma jovem de Boston que se encontra em Nova Iorque num estágio numa revista feminina. Assistimos ao trabalho que desenvolve, bem como à intensa vida social que mantém com as outras estagiárias, nas noites nova-iorquinas.
Até que o Verão acaba, e Esther volta para casa. A bolsa de estudos para a qual se candidatou e Esther vê-se, de repente, sem planos e sem perspetivas. Daí até à manifestação de comportamentos depressivos vai um pulinho e Esther dá entrada numa clínica, onde, diariamente convive com outras pessoas com patologias semelhantes.
A forma como o livro está escrito é de tal forma intimista que parece que estamos a ler o diário da autora. E a verdade é que após esta leitura, em pesquisas, descobri que é uma obra quase autobiográfica, baseada em acontecimentos do verão de 1953 quando Sylvia Plath foi, efetivamente, internada numa clínica psiquiátrica, depois de uma tentativa de suícido.
Mas, é muito mais que isso. Este livro fala sobre a condição feminina, as escolhas que se fazem ao longo da vida e que definem a Mulher: o (não) querer ser mãe, o dar prioridade à carreira, a liberdade sexual, a abstinência, o abuso sexual, etc...
É um livro que nos apresenta a doença mental sem paninhos quentes. Fala sem "mimimis" de suícido e de choques elétricos como terapêutica. É quase cruel. Dei por mim, às vezes, a querer tapar os olhos, mas sem conseguir largar o texto. Muito interessante e recomendável a 100%.
Sylvia Plath suicidou-se, aos 30 anos, em 1963, pouco tempo depois de se ter queixado que os seus episódios de depressão estavam a piorar. Plath debatia-se com insónias severas, excesso de medicação, pensamentos suicidas, agitação e considerável perda de peso. Nicholas Hughes, o filho mais novo de Sylvia Plath, suicidou-se, em 2009, aos 47 anos. Também sofria de depressão.
Sem comentários:
Enviar um comentário