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sexta-feira, 1 de março de 2019

#24Horas1Livro

Ainda em janeiro, a Silvéria - do canal The Fond Reader - lançou um desafio: ler, durante o mês de fevereiro, livros que "demorem" 24 horas a começar e terminar. Livro pequeninos que estão há "n" tempo nas estantes e que mal olhamos para eles. Sim, vocês, os fininhos...

Achei a ideia muito engraçada, e reuni um conjunto de livros que achei que seria interessante ler - como é óbvio, comecei logo a desviar caminho e só li 3 daqueles a que me propus inicialmente. E foram estes os livros que li... quem me segue no Instagram foi-se apercebendo das minhas publicações ao longo do mês, logo, estes títulos não são novidade.

1.º O Alienista, de Machado de Assis - 95 páginas
Comecei a lê-lo às 09h50, de domingo, 3 de fevereiro. Terminei, mais ou menos, às 13h30. É um livrinho pequeníssimo e muito engraçado.
O médico Simão Bacamarte, após deixar Portugal, estabelece-se numa pequena cidade brasileira, e decide aproveitar uma casa vazia e ali criar um sanatório/hospício que lhe permita estudar os mistérios da mente humana. Contudo, começa a prender, indiscriminadamente, os habitantes dessa pequena cidade, com a desculpa de serem mentalmente instáveis. A situação torna-se tão grave até ao ponto de haver uma revolução.
Ri muito, vou ser sincera. Achei este livro uma pequena pérola - o meu único reparo é à minha edição, e não ao livro em si. O meu livro fazia parte de uma coleção que, há uns anos, o Jornal de Notícias oferecia "Biblioteca de Verão" e tinha muitas gralhas.

2.º O Último Dia de Um Condenado, de Victor Hugo - 95 páginas
Este livro, à semelhança do anterior, já devia cá estar em casa há uns oito anos - sem exagerar. As únicas vezes que lhe tinha tocado - e à semelhança do anterior - foi para o mudar de sítio.
Comecei a lê-lo um pouco antes das 16h30, de 4 de fevereiro, e terminei às 22h00. Tive oportunidade de ler durante o tempo que o pequeno esteve na piscina e depois de o deitar.
O nosso protagonista diz-nos logo à cabeça que foi condenado à guilhotina. O advogado diz-lhe que vai interpor recurso, mas ele afirma imediatamente que prefere a morte a ser condenado a trabalhos forçados. E assim, temos acesso, como se de um diário se tratasse, aos pensamentos que vão na cabeça deste homem, as reflexões até ao momento final.
Todo o livro é uma crítica à pena de morte e ao "espetáculo" que este proporcionava às massas: o padre que era quase indiferente aos condenados, a refeição final, os últimos desejos...
Mais uma vez, um livro de 5 estrelas. E, mais uma vez, a crítica à falta de revisão do livro. Tudo bem que eram livros gratuitos, mas haja algum brio no produto que se apresenta. Muitas gralhas, ainda mais do que n' O Alienista, muitas frases mal construídas, enfim...

3.º Memórias das minhas putas tristes - 105 páginas
No fundo, este livro tratou-se de uma releitura. Devo-o ter lido, pela primeira vez, há cerca de 9/10 anos e nunca mais lhe peguei (só para o mudar de sítio, claro está!). Com este desafio, voltei a recordar esta bela história. Que história!
Encontramos um velho jornalista e cronista a completar 90 anos; cedendo à pressão da velhice, decide-se por celebrar o 90.º aniversário com uma jovem virgem. E, quase sem querer, encontra o amor que lhe escorregava desde menino. Este livro é uma ode ao envelhecimento e ao amor.
Comecei a lê-lo por volta das 10h00 do dia 5 de fevereiro e terminei cerca de 12 horas depois.
A escrita de García Márquez é soberba. Ao contrário de "Cem anos de solidão" que li quase há um ano, onde temos de estar concentrados para não nos perdermos nos Aurelianos e nos Josés Arcadios, "Memórias das minhas putas tristes" é quase um poema que podemos desfrutar várias vezes. Lê-se, lá está, em 12 horas - ou muito menos - e é tão bom que dói.

4.º O Decálogo - O Manuscrito, de Frank Giroud

5.º Maus, de Art Spiegelman

6.º O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, de Jorge Amado
Que livrinho maravilhoso. Há anos que ando para o ler e finalmente aconteceu. Ouvi falar dele a 1.ª vez quando entrei para a secundária, e havia colegas que o tinham lido na preparatória. Nunca o tive como leitura obrigatória, por isso fui adiando.
O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá é uma história de amor, entre dois animais de raças completamente diferentes, até ao momento final com o Gato Malhado a aperceber-se do inevitável e da impossibilidade do amor de ambos.
Escrito em 1948, este livro só viu a luz do dia 30 anos depois. É tão triste, tão poético, tão maduro para ser destinado a um público infanto-juvenil...
Li este livro em cinco horas - com "n" intervalos pelo meio, porque mim ser mãe e mim ter um ser de cinco anos a chamar-me a cada 11 segundos.

7.º O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway
Mais um livro que herdei da biblioteca da minha mãe. Gostei imenso da mensagem que é transmitida - a honra, os valores, a dignidade, a coragem... mas não me senti totalmente arrebatada, como pensava. Compreendo 100% a importância deste livro para a literatura.
Apenas no final, li a nota do tradutor, Jorge de Sena... ele aborda, em poucas páginas logo no início, o pessimismo do caráter de Hemingway e talvez tenha sido o final menos feliz que me deixou com o sentimento de "mas isto acaba aqui? Desta forma? E agora?". Esperava, talvez, que um pequeno milagre que permitisse ao Velho quebrar a onda de pouca sorte. Esperava que todo o sacrifício tivesse sido melhor recompensado do que apenas com a admiração dos seus pares...que a exaustão, quase fatal, tivesse melhor final. Irei certamente relê-lo, mais tarde, numa altura em que sinta que Santiago me possa transmitir a sabedoria que o fez aguentar três dias de luta intensa. Li esta pequena grande obra no dia 16 de fevereiro. Comecei por volta das 14h00, e com pausas e reinícios terminei pelas 23h30. Este foi o 20.º livro terminado em 2019.

8.º A Bela e o Monstro

De acordo com o meu rabisco, no início do livro, tenho-o desde 1999 - desde os meus 16 anos, portanto. Não me lembro quantas vezes o terei lido, mas devem ter sido algumas, porque a Bela era uma das minhas princesas favoritas.
Não era a tradicional menina que esperava pelo seu príncipe; a Bela lia, ajudava o pai e demonstrou ter o coração no sítio certo, na altura de ajudar o Monstro. Fui ver o filme animado, no início dos anos 90, e ainda hoje me lembro dele.
Recordar momentos ternos da minha infância foi um dos meus objetivos ao pegar no A Bela e o Monstro. Não era um livro esquecido. Não é uma obra-prima da literatura mundial nas prateleiras mais baixas da estante à espera do seu momento. A Bela e o Monstro foi a minha forma de querer terminar em beleza o desafio da Silvéria.



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