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terça-feira, 23 de agosto de 2022

Lido: Britt-Marie esteve aqui, de Fredrik Backman

Depois de Ove, Fredrik Backman "oferece-nos" Britt-Marie. Britt-Marie é uma mulher de meia idade que acaba de se separar do marido, Kent. Casada há décadas, descobre que o marido a trai, e resolve deixá-lo. Mas Britt-Marie nunca fez nada na vida além de cuidar dos outros, especialmente do marido. Inscreve-se num centro de emprego, e é previsto que espere. 

Mas Britt-Marie não sabe esperar e, todos os dias, telefona para o centro para saber se já apareceu alguma oferta. Até que, poucos dias depois, realmente aparece algo: uma vaga para supervisionar, temporariamente, um centro recreativo de uma vila quase deserta. Está previsto que o centro seja encerrado de forma permanente, daí a poucas semanas, mas até lá, é preciso que alguém continue a zelar pelo seu bom funcionamento. 

Britt-Marie tem várias características muito próprias: não suporta desarrumação, acha que tudo deve ser feito de acordo com as regras e tem a certeza que tudo se limpa com uma boa dose de bicarbonato de sódio. Chegada a Borg, a vila, apercebe-se que se trata de um local de passagem, e que são poucos os residentes que ali se mantém. Só existem dois negócios abertos: uma florista e uma pizzeria, que também funciona como mercearia e estação dos correios (e ocasionalmente, encontra-se um ou outro produto "que cai de camiões"). 

A senhora começa o seu trabalho com uma limpeza profunda ao próprio do centro recreativo, enquanto, vai conhecendo as pessoas que ali vivem (conhece também um ratinho, a quem deixa, todos os dias, um pedaço de chocolate, num pires). Às duas por três, vê-se como responsável de um grupo de crianças que quer participar num torneio de futebol, quando, na verdade, mal sabem dar um chuto numa bola. 

Até que Kent reaparece e pede que Britt regresse a casa. E o mundo que Britt-Marie está a construir ali, naquela vila quase esquecida, sente os alicerces a abanar. 

Fredrik Backman tem o condão de tornar histórias banais em grandes narrativas. A vida de Britt-Marie é banal, tal como era a de Ove, mas, de repente, tudo se transforma, e pessoas perfeitamente banais, podem ser os heróis de alguém. E Britt-Marie é a heroína de muitos. Eu, pessoalmente, já gostava dela à 5.ª página lida. E sabia que algo de muito especial ia ali acontecer. O quê e como eram as minhas dúvidas. Eu ia sugerir este livro a quem gosta de "leituras leves", mas apercebi-me que, no fundo, Britt-Marie esteve aqui não é só um livro leve. Tem outras reflexões muito interessantes: o trabalho de equipa, a superação, o amor e a amizade, mas também a soberania do dinheiro, a família, o envelhecimento... Fredrik Backman trata de assuntos sérios com uma leveza que não é fácil de replicar, e ataca "com tudo" neste livro maravilhoso que aquece corações.  

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