"Se isto é uma mulher" remete-nos para a obra de Primo Levi "Se isto é um homem" (link aqui). Na obra do químico italiano, é abordada a sua passagem pelo campo de concentração Auschwitz-Birkenau. Sem floreios, sem romancear, Levi fala - de forma muito crua - sobre o terrível tratamento sofrido naquele campo de concentração.
E talvez, por Auschwitz ser o mais famoso campo de concentração daquele período, tendemos a secundar outros. O número de campos de trabalho, de concentração, de encarceramento, de extermínio (e respetivos subcampos) não é exato, mas em todas as fontes que consultei, o valor ascende sempre aos milhares.
Sarah Helm concentrou-se em Ravensbrück. Este campo, exclusivamente feminino, situava-se a menos de uma centena de quilómetros de Berlim, e por ali terão passado mais de 132 mil mulheres e crianças. Estima-se que cerca de 90 mil pessoas terão sido mortas neste campo. E quando digo "terão sido mortas", falo em todos os aspetos da morte: assassinadas a tiro ou em câmaras de gás, à fome, à sede e ao frio, de loucura, de doenças naturais ou provocadas por experiências médicas...
Se, nos primeiros meses, as condições não eram as piores (havia comida, roupas, lençóis e colchões, por exemplo), há medida que o tempo foi passando, tudo se degradou. Oito meses depois do início da guerra, a população aprisionada já excedia a capacidade do campo.
E a autora explora exatamente essas vivência. Depois de falar com várias sobreviventes e filhos de sobreviventes, Sarah Helm conseguiu construir um livro que nos deixa nauseados, para ser simpática. Várias vezes, chorei. Os relatos são impressionantes, para dizer o mínimo.
Não só devido à sua natureza, não é um livro fácil de ler. Sarah Helm vai atrás de pessoas e das suas histórias, e nem sempre por ordem cronológica. Andamos para trás e para a frente no tempo, fala-se de várias mulheres, mistura-se o relato em discurso direto, com memórias em 2.ª mão... acho que foi por estas razões que demorei tanto neste livro.
Não é um passeio no parque. Não é um livro para ler num bonito dia de sol. É um livro que nos vai magoar profundamente e fazer-nos equacionar sobre os conceitos de "humanidade", de "decência" e "dignidade". Talvez também em "esperança". Houve aquela prisioneira que disse que se recusava a morrer nessa condição. Morreu poucos dias depois da libertação, como uma mulher livre, tal como desejava...
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