Como tenho confidenciado, tenho andado num pequeno deserto de leituras. Não me tem apetecido ler, simplesmente, e tenho visto mais séries e filmes. Fases. Mas quando o Henrique começou as férias, prometi que íamos à Biblioteca Municipal; como não é possível entrar lá e escolher, tivemos de fazer esse trabalho em casa, e escolher pelos títulos que nos soavam melhor. Aconteceu com "Nenhum Olhar". Não conhecia nada de José Luís Peixoto, mas li que havia sido com esta obra que ele ganhou o Prémio Saramago. Nada a perder, portanto.
E gostei mesmo muito.
A determinada altura, pela forma como o texto é apresentado, pelas características das personagens que nos iam sendo dadas a conhecer, pela fatalidade dos seus destinos, quase parecia que estava a ler Gabriel Garcia Marquez. Juro pela minha saúde.
A ação passa-se no Alentejo e cruza duas gerações de duas famílias rurais, e narra a dureza da existência dos habitantes daquela aldeia. Gémeos ligados por um dedo, um velho com perto de 150 anos, uma prostituta cega, filha de uma prostituta cega que, por sua vez, era filha de uma prostituta cega, um gigante e o diabo são alguns desses habitantes que simplesmente aceitam o destino que lhes é apresentado.
Tudo isto, pintalgado com uma escrita muito poética, contudo, tão fácil de ler como se o tívessemos feito toda a vida. Há muito tempo que não me comovia desta maneira com um livro.
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